segunda-feira, 7 de setembro de 2015

As Bombas de Hiroshima e Nagasaki

Pio Penna Filho*

Segunda-feira, 6 de agosto de 1945, pouco depois das oito horas da manhã os americanos lançaram uma bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima. No dia 09 do mesmo mês, porém um pouco mais tarde, mas ainda pela manhã, foi a vez da cidade de Nagasaki. Milhares de pessoas morreram instantaneamente. Outras milhares morreram mais lentamente, até mesmo muitos anos após os eventos dos dias 06 e 09 de agosto.
Os Estados Unidos cometeram um verdadeiro crime contra a humanidade no Japão. Os lançamentos das bombas atômicas, uma de urânio e outra de plutônio, poderiam tranquilamente terem sido evitados. Mas os americanos queriam mostrar ao mundo a sua nova e formidável arma. Queriam também castigar o Japão pelo ataque à base naval de Pearl Harbor, que desencadeou a guerra entre os dois países.
A decisão de lançar as bombas não foi baseada apenas levando em conta os objetivos militares norte-americanos. Ela teve, na verdade, um forte componente político, que era o de mostrar aos soviéticos e ao mundo quão poderoso eram os Estados Unidos ao final da Segunda Guerra Mundial.
O presidente dos Estados Unidos, assim como os cientistas e as pessoas diretamente envolvidas no programa nuclear, estavam plenamente cientes que haviam construído uma arma com potencial nunca antes visto e que o seu impacto seria apavorante. Aliás, a escolha dos alvos nos revela até onde pode ir a maldade humana, especialmente em tempos de guerra.
Hiroshima foi uma cidade relativamente tranquila durante toda a guerra. Praticamente não sofreu ataques aéreos convencionais norte-americanos e sua população estava um tanto despreocupada com a possibilidade de se tornar alvo direto de um ataque. Daí é possível imaginar a surpresa de sua população quando a bomba explodiu, ainda mais porque ninguém conseguiu compreender que arma era aquela que havia produzido um efeito tão devastador e estranho.
A ideia era justamente essa: usar a cidade japonesa de Hiroshima como um balão de ensaio para verificar o resultado de um ataque nuclear real. O que aconteceria com a infraestrutura da cidade? Qual seria a real dimensão do poder destrutivo da bomba? Quantas pessoas ela poderia matar de uma só vez? Essas e outras dúvidas precisavam ser respondidas com uma experiência concreta. Quanto mais destrutiva, quanto mais pessoas mortas, melhor para a propaganda norte-americana.
Não satisfeitos com o ataque a Hiroshima, os Estados Unidos atacaram Nagasaki com um novo artefato nuclear. Aí o crime se materializa de vez, porque as notícias sobre os horrores ocorridos em Hiroshima já haviam se espalhado e os Estados Unidos já tinham uma ideia mais precisa sobre os efeitos da bomba. Caso os japoneses não se rendessem, muito provavelmente outra bomba seria lançada. Talvez até mais de uma.
Hoje, os arsenais nucleares são muito mais vastos e as bombas e ogivas muito mais poderosas do que aquelas lançadas no Japão em 1945. Norte-americanos, russos, chineses, franceses, ingleses, paquistaneses, indianos, israelenses e norte-coreanos possuem sofisticadas bombas atômicas.
É até compreensível que tenhamos chegado ao ponto que chegamos, sobretudo porque a humanidade é movida, em grande medida, por sentimentos nada nobres, como bem nos ensina a História. A lição que fica é que, infelizmente, não se deve duvidar, de jeito nenhum, da maldade humana. Caso os Estados Unidos tivessem perdido essa guerra, certamente os seus dirigentes seriam julgados e condenados por crimes contra a humanidade.









* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB),  Pesquisador do CNPq e do Centro de Estudos Estratégicos do Exército Brasileiro (CEEEX). E-mail: piopenna@gmail.com

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