terça-feira, 1 de outubro de 2013

Pintura 3D Com o artista Julian Beever

Terror: da Somália para o Quênia

Pio Penna Filho*

Um dos principais grupos armados da prolongada guerra civil da Somália promoveu uma espetacular e mortífera ação em Nairóbi, capital do Quênia. Até agora os registros indicam 72 pessoas mortas, entre militares, terroristas e civis, sendo que a grande maioria dos mortos são civis que estavam no local do atentado, um sofisticado shopping center da cidade.
O grupo que assumiu o atentado chama-se “Al-Shabab” e entrou em operação em 2006, quando as chamadas “Cortes Islâmicas da Somália” promoveram um arremedo de governo no país. Aliás, é de se notar que a Somália é um típico caso de estado falido, sem governo efetivo e com a população vivendo à mercê de grupos armados que controlam partes do país, o que provoca uma enorme insegurança coletiva e dá margens ao surgimento e proliferação de grupos radicais que tentam se impor por meio da violência.
O Quênia entra nessa história a partir do momento em que suas Forças Armadas começaram a combater as milícias do Al-Shabab em território somali. Na verdade, o Quênia foi envolvido na questão somali por uma série de fatores, dentre eles pelo fato de possuir uma extensa fronteira com a Somália e, por isso, sofrer diretamente as consequências da guerra civil do vizinho, seja pelo fluxo de refugiados, seja pela ação dos grupos armados islâmicos em seu território.
Há que se destacar também que além dos aspectos regionais o Quênia foi, de certa forma, induzido pelos Estados Unidos em sua cruzada contra o chamado “terrorismo internacional” a participar do conflito na Somália, justamente como ocorreu com a Etiópia, outro país vizinho da Somália que também sofria e sofre as consequências de fazer fronteira com um estado falido.
Nos últimos anos tropas etíopes e quenianas participaram diretamente de operações militares na Somália, principalmente para combater as milícias da Al-Shabab. Esse é um dos motivos do atentado no Quênia. Ocorre que agora a situação tende a piorar, haja vista que provavelmente o governo do Quênia e as demais forças presentes na Somália, irão ampliar a repressão especialmente contra a Al-Shabab, que por sinal está oficialmente vinculada à rede Al-Qaeda.
A Al-Shabab não é um grupo fácil de combater. Eliminá-la, então, pelo menos num cenário de curto ou médio prazo, soa como um devaneio. O grupo está sofrendo uma enorme pressão na Somália por parte de tropas estrangeiras e o atentado no Quênia é uma forma de dizer ao mundo e aos somalis que sua capacidade operacional continua de pé.
O grande problema são os métodos adotados pelo grupo. O terror predomina e os mais afetados são os civis. Os somalis já vem sofrendo o infortúnio de ter que lidar com a sua presença em diversas partes do país e agora o público externo se vê também vulnerável às suas ações.
Infelizmente a resolução desse conflito não será pacífica. Embora a negociação passe por entendimentos políticos, esse grupo só aceitará negociar quando já estiver em frangalhos, ou seja, quando não houver mais como continuar a luta armada por meio do terrorismo.






* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

SURREAL E SUBLIMINAR

A IMPORTANTE VERTENTE DO TURISMO CULTURAL

·         Luíza Ribeiro[1]
O turismo cultural, Segundo Lohmann (2012), abrange 4 grandes vertentes, a social, cultural, econômica e ambiental. Sendo o turismo cultural, uma das principais vertentes. Mato Grosso, estado que guarda fortes tradições forjadas pelas influências europeia, negra e indígena, vê na cultura um imenso universo a ser explorado.
Uma via de mão dupla, onde o turismo ganha com a cultura regional e a cultura regional se revigora com a ampliação do turismo nesta área.
Nas diversas definições do turismo a ressalvas à importância da vertente para a composição dessas atividades humana, que se encontra em crescimento significativo. Em cada ato de interação entre povos e seus costumes, estará lá o turismo cultural como um mediador de suas expressões e tradições.  
Com tudo, além dos aspectos positivos, é preciso pontuar as deficiências das atividades turísticas nessa área: Pouca compreensão dos profissionais envolvidos sobre o seu verdadeiro potencial e sobre as técnicas adequadas para esse segmento, desconhecimento por parte dos “fazedores” da cultura sobre o alcance turístico da atividade e falta de planejamento para organizar essa importante vertente do turismo, são sem duvidas os principais problemas desse setor.
            Por fim, a esperança positiva para o setor reside no fato de Mato Grosso, e sua capital Cuiabá, ter assumido papel de destaque ao sediar a Copa do Mundo de Futebol 2014. Podendo com certeza, contribuir para a difusão do turismo cultural.
Os turismólogos, no entanto, passam a ter importante papel nesse momento, em que o turismo cultural se estabelece como importante ferramenta para divulgação de nossas expressões artísticas e culturais.



·         [1] Aluna do 6º semestre de Turismo na Anhanguera Educacional de Cuiabá (2013).

Os Estados Unidos e a Política Mundial

Pio Penna Filho*

O governo do presidente Obama, prêmio Nobel da “Paz”, está com todo o seu poderoso dispositivo militar pronto para atacar a Síria. Ao mesmo tempo, esse mesmo governo ampliou de forma espetacular os tentáculos de sua espionagem em escala global, bisbilhotando a tudo e a todos, como vem sendo mostrado pela divulgação de sua própria documentação. Abaixo, algumas conclusões sobre a atuação dos Estados Unidos na política mundial à luz da sua prática.
Os Estados Unidos agem como se fossem um Império. A política externa norte-americana é agressiva com amigos e inimigos. A vontade imperial de Washington se estende para todo o globo e sua visão predominante é a de que o mundo deve se dobrar aos desígnios da grande potência do norte, não havendo força ou ideal superior à dos Estados Unidos em qualquer canto do mundo. Ademais, o Império está pronto para intervir em quase qualquer situação, em qualquer lugar, por isso sua excepcional força militar, notadamente de projeção de poder. 
Os Estados Unidos agem desprezando as normas internacionais. As normas internacionais valem muito pouco para limitar o poder de Washington. Se a estrutura de poder internacional erigida em torno do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que legitima políticas de intervenção, não atender aos anseios dos Estados Unidos, isso não é problema. A intervenção poderá acontecer sem aprovação do Conselho, haja vista que os interesses americanos estão acima da “lei”, o que aliás reforça a ideia imperial.
Os Estados Unidos agem como se quase todos fossem seus inimigos. O que vale para os Estados Unidos são os seus interesses. Washington leva ao pé da letra a máxima de que, em termos de política externa, o que vale são os interesses. Dessa forma, quem é “amigo” hoje pode não ser amanhã; ou quem foi amigo ontem pode não ser hoje. Assim, a espionagem americana não tem limites, embora receba a colaboração de alguns poucos países hoje considerados amigos, embora amigos subalternos.
Os Estados Unidos agem de acordo com a força e apenas entendem a linguagem da força. A única imunidade com relação à política imperial dos Estados Unidos reside em ter força suficiente para uma retaliação militar que cause impacto na sociedade norte-americana. Meios limitados, como o dos afegãos que resistem há tempos à ocupação de tropas dos Estados Unidos e da OTAN não são suficientes. Assim, apenas os países que possuem arsenal nuclear estratégico, com capacidade real para atingir o território norte-americano, estão fora do radar intervencionista do império.
O que estamos assistindo ultimamente é que se esboça uma reação difusa, em escala global, à essa política imperial, eivada de contradições, sobretudo por serem os norte-americanos os grandes defensores da democracia e da liberdade.
Não existem muitas ilusões de que essa reação difusa seja capaz de mudar os rumos da política externa norte-americana. O problema é que estamos chegando a um ponto em que muitos países e lideranças estão constatando o óbvio, ou seja, que a linguagem da força e do poder prevalece sobre o diálogo. Não é à toa que quem está se contrapondo de forma mais intensa aos Estados Unidos seja justamente a Rússia.






* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com