terça-feira, 16 de outubro de 2012

República Velha - características gerais

Futurismo

Brasil - Revoltas Coloniais 01

Revolução Meiji

HISTÓRIA DO MATO GROSSO COLONIAL

Imperialismo: Aula 01> África

BRASIL REPÚBLICA

Política Nacional de Fronteiras


Pio Penna Filho*

O Brasil é detentor de uma vasta e diversificada área de fronteira (apenas as fronteiras terrestres tem pouco mais de 15.700 km de extensão!), mas ainda não possui uma política nacional que dê conta dos complexos problemas que envolvem essas áreas. É imprescindível que o governo federal, associado aos governos estaduais e municipais diretamente vinculados a essas regiões, tome a importante atitude de elaborar uma política específica e efetiva para as nossas fronteiras.
Estados fronteiriços como Mato Grosso deveriam ter todo o interesse em provocar o governo federal a rever a perspectiva central com relação às zonas de fronteira. É certo que as questões relacionadas com as fronteiras não afetam apenas os Estados que estão na linha de frente, todavia, eles geralmente costumam ser os primeiros a sentir os problemas derivados dessa característica peculiar.
É por eles que entram e saem as drogas, o contrabando, os fluxos migratórios (legais e ilegais) e toda sorte de ilícitos praticados entre dois ou mais Estados. Naturalmente, parte desses ilícitos costuma ficar nos Estados fronteiriços, que não são apenas corredores que levam aos grandes centros mais distantes, principalmente aqueles localizados no sudeste do país.
É de se notar também que a visão da capital federal com relação às nossas fronteiras não necessariamente corresponde à complexa realidade vivenciada pelos Estados, municípios e pessoas que vivenciam o cotidiano dessas áreas. Brasília, por exemplo, tende a ver a fronteira muito a partir da perspectiva da segurança e desconhece várias das necessidades e precariedades que envolvem o dia a dia da vida nessas regiões “esquecidas”.
Segundo essa visão, a presença do Exército e de alguns poucos postos da Polícia Federal estariam de bom tamanho, como se ambos fossem capazes de prover as necessidades dessas regiões e do país. Além disso, quando muito, temos um posto da Anvisa aqui e um da Receita Federal acolá. E nada mais.
Aliás, as próprias instituições do Estado federal que lidam com os temas fronteiriços costumam ignorar-se mutuamente, sendo portanto muito baixo o grau de interação e cooperação entre elas. Isso só faz agravar mais o problema. Há ainda o fato de que os Estados e municípios raramente são convocados a participar do debate, justamente eles que mais conhecem a realidade das zonas de fronteira.
À parte algumas áreas fronteiriças do sul do país, historicamente mais integradas com os países vizinhos, como se verifica principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, as nossas fronteiras vão ficando cada vez menos habitadas à medida que seguimos em direção ao norte, sobretudo a partir do Estado de Mato Grosso, até chegarmos ao ponto realmente crítico das fronteiras amazônicas.
É imperativo que o governo federal encontre uma forma de melhor integrar essas regiões tão importantes para o país com as outras “partes” do Brasil. Para isso, torna-se crucial a melhor compreensão dos seus problemas e de como se veem e veem o Brasil aqueles que nelas vivem. Enfim, é preciso levar, além de desenvolvimento e integração, também a cidadania para as nossas fronteiras.





* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

domingo, 7 de outubro de 2012

Interação e Estrutura Social

Indivíduo e Sociedade

SEGUNDO REINADO - CRISES

ARTE ABSTRATA E DADAÍSMO

Domínios morfoclimáticos Brasileiros (aula 02)

Perspectivas da Crise na Europa


Pio Penna Filho*


A crise continua forte na Europa, sobretudo em alguns países que estão sentindo de forma mais severa os seus efeitos. Dentre eles se destacam Espanha, Portugal e Grécia, embora não sejam os únicos. Essa crise, segundo os especialistas, ainda levará tempo para ser superada e os seus reflexos se prolongarão ainda por vários anos.
Algumas manchetes, coletadas de forma aleatória em jornais, nos dão a dimensão severa da crise e seu impacto social: “Mais de 500 famílias são despejadas por dia na Espanha”, “Grécia corre contra o tempo e busca aprovação de pacote”, “Portugal sobe imposto de renda em 30% para cumprir metas de resgate” e “Maior sindicato de Portugal convoca nova greve geral”, são alguns exemplos.
Acostumados a um padrão de vida elevado, os europeus estão agora sentindo na pele o que é viver com restrições. Aumentou o desemprego, a renda diminuiu, os preços e os impostos subiram. Ou seja, a pobreza voltou e está presente após um ciclo de prosperidade no velho continente.
As implicações sociais da crise são grandes e já se fazem sentir na Europa e alhures. Aqui no Brasil já percebemos o aumento do fluxo de cidadãos europeus em busca de trabalho e melhores condições de vida. Quem diria! Dez anos atrás eram os brasileiros que buscavam melhores condições na Europa.
Certamente a crise trará mais novidades políticas em vários países europeus. O próprio processo de integração vem passando por sérios questionamentos por parte de vários setores sociais europeus. Parece que há um quase consenso em apontar a adoção da moeda única, o euro, como um dos principais vilões da crise. Mas isso é pouco. O euro certamente teve e tem o seu papel na crise, mas por si só não a explica totalmente.
Dentre os possíveis cenários no médio e longo prazo, podemos vislumbrar a diminuição da interdependência econômico-comercial das economias europeias. A economia alemã, a mais dinâmica da Europa, caminha a passos largos para se conectar cada vez mais com a China e com outros mercados fora da Europa. Certamente, isso provocará impactos na ideia de um espaço econômico comunitário no âmbito continental.
A fase atual é muito mais de fragmentação. Estamos assistindo a um processo que está comprometendo a união entre os países europeus e também a unidade política de alguns desses países, sendo que esse fenômeno é especialmente forte na Espanha. Muitos já não acreditam mais na Europa como unidade política e veem justamente na União Europeia a principal fonte do seus problemas.
A diminuição e mesmo a retração no processo de integração da Europa é um exemplo do dinamismo da história. O que parecia consolidado há poucos anos atrás e que era exemplo e inspiração de integração para vários outros blocos regionais está se mostrando, aparentemente, um castelo de cartas.
Mas o resultado final, de todo modo, só o tempo dirá. Os europeus tanto podem retomar a integração, num novo patamar, quanto enfrentarem uma gradativa e forte retração na ideia comunitária. O fato é que atualmente a principal tendência é justamente essa última.





* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

Trinta Mil Mortos


Pio Penna Filho*


A Síria está em guerra e a contagem dos mortos, mesmo que imprecisa, já atinge um número considerável: trinta mil em um ano e meio. Não é pouca coisa. Um dado complementar importante é que, como quase sempre, os civis são os mais atingidos e perfazem a maior parte dos mortos, isso sem contar o intenso fluxo de refugiados que não para de crescer.
Assusta-nos a incapacidade das Nações Unidas para encontrar uma solução para a guerra. Até agora, não passamos de vagas declarações de apoio à “paz” e do veto no Conselho de Segurança a qualquer possibilidade de intervenção oficial. Ou seja, a comunidade internacional está imobilizada.
Porém, o paradoxo maior é que a guerra civil síria já está internacionalizada há muito tempo. Não se trata, portanto, de um conflito estritamente interno. Veja-se, por exemplo, que a liderança militar do chamado Exército Livre da Síria operava a partir da Turquia, naturalmente com o conhecimento e anuência das autoridades turcas.
O Irã é outro país diretamente envolvido e que não esconde sua opção pelo governo de Bashar Al Assad. Oficialmente, admite a intervenção por meio da presença de instrutores militares iranianos em solo sírio. Ainda apoiando a Síria temos o governo russo, que possui interesses no país e patrocinou o veto no Conselho de Segurança contra qualquer intervenção direta no país.
Os insurgentes, por sua vez, também não estão sozinhos. Seria impossível manter uma resistência armada tão prolongada sem contar com apoio externo, ainda mais contra um governo que dispõe de recursos e não economiza na violência e na repressão interna.
Eles estão recebendo armas, munições, treinamento, suprimentos e voluntários que para a Síria se dirigem provenientes de vários países, especialmente do mundo árabe. Existem sérias suspeitas que alguns governos ocidentais vem mantendo contatos secretos há vários meses com os insurgentes.
Fica evidente, pois, que a guerra já está internacionalizada. Somente as organizações internacionais e regionais não assumem maiores responsabilidades porque possuem impedimentos legais, além da falta de vontade política para incrementar a pressão por mudanças.
Todavia, como bem lembrou um civil sírio ao reclamar da indiferença internacional para com a sorte dos seus concidadãos, os Estados Unidos, como hiperpotência, quando desejam não costumam pedir autorização a ninguém para fazer a guerra, mesmo que seja criar uma guerra para acabar com outra.
E, por último, existem aqueles países que assistem quase indiferentes ao que está acontecendo na Síria, como é o caso do Brasil. Assim, para o governo brasileiro não existe solução militar para a guerra. A saída é o dialogo, pensa a nossa chancelaria, como se isso fosse possível com o governo Assad.
Triste período que vive a Síria e o seu povo. Os últimos anos da tirania de Assad serão lembrados pela história como um momento de muita dor e sofrimento.





* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

Intolerâncias


Pio Penna Filho*

Essa semana assistimos novas manifestações violentas resultantes da intolerância religiosa. Muitos muçulmanos se sentiram ofendidos pelo que consideraram um grande desrespeito para com o Profeta Mohammed após tomarem conhecimento de um filme produzido nos Estados Unidos e desencadearam violentos protestos em alguns países do Oriente Próximo e Norte da África.
O filme, disponível no youtube e acessado milhares de vezes, possui um claro viés desrespeitoso para com o Profeta, além de uma mediocridade aviltante. Não se trata de um caso isolado, haja vista que manifestações como essa, que buscam ridicularizar personalidades carismáticas ou símbolos representativos da fé de muitas pessoas tem se repetido inúmeras vezes.
Vale lembrar os episódios verificados no Iraque e, mais recentemente, no Afeganistão, nos quais militares norte-americanos vilipendiaram cadáveres de muçulmanos e queimaram exemplares do Corão.
Houve também episódios na Europa, sendo os mais conhecidos a publicação de cartoons sobre o Profeta na Dinamarca, a produção de um filme considerado depreciativo também sobre o Profeto na Holanda e, mais recentemente, a intolerância cultural e religiosa dirigida aos muçulmanos na França que foram proibidos de usar a burca em escolas públicas. Isso sem contar os repetidos atos de vandalismo e profanação geralmente praticados contra alvos judaicos.
Outro tipo de intolerância que tem ocorrido com certa frequência se dá no âmbito mesmo do mundo muçulmano. Não tem sido incomum atos extremamente violentos dirigidos contra grupos muçulmanos de correntes divergentes, como as agressões entre xiitas e sunitas, por exemplo.
O fato é que assistimos ultimamente ao aumento da intolerância religiosa e geralmente envolvendo, com mais frequência, o mundo muçulmano. É algo realmente preocupante porque a intolerância religiosa quase sempre vem acompanhada de diferenças políticas, que tendem a potencializar ainda mais a violência.
Não é absurdo afirmar que parte substancial dessa intolerância parte do chamado ocidente cristão contra os adeptos do islamismo. Não se tem notícia de que grupos muçulmanos vilipendiam ou agridam, por exemplo, templos ou símbolos do cristianismo. Aliás, os muçulmanos, desde a época do Profeta, reconhecem e respeitam a religião cristã.
O problema, portanto, é que a chamada civilização ocidental, por arrogância e prepotência, mais do que por incompreensão e ignorância, não tem respeitado a crença e a fé dos muçulmanos. Há quase um abismo entre os mundos cristão e muçulmano, que via de regra tiveram tensas relações desde o surgimento do Islã.
Ou o ocidente passa a respeitar os muçulmanos, reconhecendo a sua fé, valores e costumes, ou o convívio entre esses povos continuará a ser conflituoso e violento. É imperioso que busquemos mais diálogo e compreensão, e isso também é dever da comunidade internacional. A Organização da Nações Unidas deveria ter uma atitude mais ativa para fomentar esse diálogo.



* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com