segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Falklands ou Malvinas?

A questão das Ilhas Malvinas volta à baila com os protestos britânicos que se seguiram à decisão dos países do Mercosul de fechar os seus portos a embarcações que utilizem a bandeira das Falklands, como os colonialistas ingleses definem as Ilhas. Aliás, o paradoxo dos paradoxos foi a recente declaração do primeiro ministro britânico de que os argentinos estão sendo “colonialistas” ao reivindicar a soberania sobre o arquipélago.

Depois da desastrosa guerra de 1982, quando militares argentinos, no ocaso da ditadura iniciada em 1976, se lançaram numa aventura militar mal planejada e pessimamente executada, os britânicos reafirmaram por meio da força a sua soberania sobre as ilhas. A guerra comprometeu também, pelo menos temporariamente, as reivindicações da República Argentina de posse das Malvinas. De toda forma, os argentinos jamais abriram mão do princípio de que as ilhas lhes pertencem.

O domínio britânicos sobre as Malvinas remete ao tempo em que a Inglaterra se firmava com a grande potência do século XIX. Dominadora dos mares, a “pérfida Albion” gradativamente espalhou o seu poder em direção a todos os mares e continentes, estabelecendo colônias, protetorados, além de outras formas de administração direta ou indireta de territórios e subjugando populações inteiras. Não agiu sozinha. Outras potências europeias executaram projetos semelhantes, disseminando o “perigo branco” em todas as direções.

Como a roda da história não para de girar, também gradativamente todo o Império construído com muito sofrimento e sangue, sobretudo dos povos conquistados, foi-se desfazendo. Esse processo teve início em 1947, já terminada a Segunda Guerra Mundial, momento histórico em que a primeira peça da enorme coleção de colônias de Sua Majestade consegue se ver livre de uma vez por todas das garras britânicas. Refiro-me à independência da Índia.

Daí em diante foi como se o tempo tivesse se acelerado, apressando o fim do sinistro sistema colonial. Os britânicos, assim como os outros colonialistas europeus, sobretudo franceses, foram sendo despejados e reenviados de volta ao velho continente. Mas ainda ficaram alguns resquícios dessa época em que a Europa ditava as regras do ordenamento mundial.

As Malvinas são um exemplo, mas não o único. É sempre bom lembrar que a Guiana Francesa, nossa vizinha mais ao norte, é o que os franceses chamam de Departamento do Ultramar. Um território da França em plena América do Sul! Somos, por assim dizer, vizinhos da França. Só a história consegue explicar essa aberração, essa vontade de poder e controle de territórios e povos tão longe de casa que boa parte dos países europeus cultivaram ao longo de séculos e que alguns ainda resistem em abandonar.

A reivindicação dos argentinos é justa e esse é o entendimento da maioria dos países latino-americanos. O tempo dos grandes impérios já se foi e os europeus deveriam ter consciência disso. Mas, pelo visto, teremos que esperar pelo menos mais meio século para que a Europa reflua definitivamente para suas fronteiras originais.



Autor: Pio Penna Filho
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

LEITURAS HISTÓRICAS: ESCRITA DA HISTÓRIA

Disponibilizamos hoje nossa primeira dica de leitura. Trata-se da coletânea de Artigos ESCRITA DA HISTÓRIA publicada pela Editora da UNEMAT. Abaixo parte da apresentação da coletânea:


“Esta coletânea de textos tem sua origem nos trabalhos apresentados durante a realização dos Simpósios Temáticos do V Encontro Regional de História: Escrita da História, evento organizado pela Associação Nacional de História – Núcleo Regional de Mato Grosso – ANPUH/MT, ocorrido em novembro de  2008, na cidade de Cáceres/MT.
O  V Encontro Regional de História, intitulado  "Escrita da História”,  foi aprincipal atividade científica organizada pela ANPUH/MT. O encontro possuiu como foco central um tema de discussão escolhido de acordo com a importância do mesmo, para o aprofundamento dos estudos relacionados à História e à produção do conhecimento histórico.
O evento destaca-se como momento privilegiado de debates e articulações entre os diversos professores/pesquisadores sobre os estudos realizados ou em desenvolvimento, congregando as diferentes abordagens na produção e usos do conhecimento histórico. É um ponto de encontro e intercâmbio entre os profissionais e estudantes de História e áreas afins para apresentar, debater e avaliar o andamento da produção do conhecimento histórico e sua relação com as necessidades sociais e educacionais do Estado de Mato Grosso.”

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sobre HISREL

Blog destinado ao estudos da História e Ciências Humanas em geral. Também tem como proposta discussões sobre Educação, Cotidiano e Política. Aqui serão postados Artigos com discussões diversas, dicas de Filmes e Vídeos que podem ser utilizados como ferramentas de estudo e pesquisa, indicações de Leituras diversas e outros.

SEJAM TODOS BEM VINDOS!!!


A Colômbia e suas implicações no contexto sul-americano


Nos aspectos referentes à segurança na América do Sul, a Colômbia se encontra como um país preocupante e de grande discussão. Desde a sua independência do reino da Espanha em 1819, o Estado colombiano se viu dividido pela luta em busca do poder por seus dois principais partidos: o Conservador e o Liberal. Esta disputa acabou por ultrapassar os pleitos eleitorais e chegou às ruas, onde os partidários dos dois lados se enfrentavam por seus partidos.
Fruto de disputa entre os dois partidos, em 1948 iniciou-se o período conhecido como “La Violência”. Nesta fase da história colombiana, representantes dos dois partidos se digladiavam nas ruas colombianas, vitimando milhares de almas. A guerra civil somente teve seu fim quase 10 anos após seu inicio (1953) quando, após amplas negociações, os partidos Liberal e Conservador firmaram um acordo de governo para a Colômbia. O acordo que recebeu o nome deFrente Nacional representou tanto o fim de “La Violência” quanto a divisão de poder entre os dois partidos. Pelo acordo o Estado colombiano foi dividido entre os conservadores e liberais que se dividiram no poder. A Frente Nacional se caracterizou pela ilegalidade dos outros partidos colombianos como o Partido Comunista Colombiano e a perseguição aos pequenos agricultores (camponeses e indígenas), que perdiam suas terras para os grandes produtores, latifundiárias que eram beneficiados pela proteção do governo.
Surgidos como uma alternativa contra os desmandos da Frente Nacional, a partir do final da década de 1950, começaram a se formar no interior do país guerrilhas agrárias de esquerda, formadas pelos pequenos agricultores. O movimento guerrilheiro colombiano inicia neste período uma das características mais marcantes da Colômbia, aquela que dura até os dias de hoje: o conflito armado entre Estado e guerrilhas.
No ano de 1964, após um ataque de centenas de soldados do Exército Colombiano a região de Marquetália, surge o principal movimento guerrilheiro colombiano. Inspirado pela linha marxista-leninista e apoiada pelo clandestino Partido Comunista Colombiano ( PCC), foi formado sob a liderança de Manuel Marulanda as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo ( FARC-EP).
Outro movimento guerrilheiro surgido neste período foi o Exército de Libertação Nacional (ELN). Este teve suas ações iniciais fundadas principalmente no Departamento de Santan-Castanho, onde por meio de pilhagens e ataques a prédios públicos em pequenas cidades, se firmou como um influente movimento guerrilheiro deste país.
O contexto do conflito entre o governo colombiano e os movimentos guerrilheiros aqui apresentados, e outros como o movimento 19 de Abril (M-19) e o Exército Popular de Libertação (EPL), enfraqueceram ainda mais o já debilitado Estado colombiano. Estes fatos transformaram a Colômbia em local propício para o mercado mundial de drogas, que a partir do fim dos anos de 1970 se fortaleceu neste país e se colocou como fonte de renda para os camponeses pobres do interior e para a guerrilha que passou a usa-lo como principal fonte de seu ´´financiamento revolucionário“. Para que se pudesse produzir coca – principal componente da cocaína – nos territórios dominados pelas guerrilhas, os produtores (traficantes) foram obrigados a pagar uma taxa, uma espécie de imposto para a guerrilha.
Também deste contexto, grupos armados se formaram financiados pelos grandes plantadores de coca que se recusavam a pagar as taxas impostas pela guerrilha. Os objetivos destes grupos, chamados de Paramilitares, eram o de perseguir os grupos guerrilheiros e seus simpatizantes, assim como proteger os grandes latifundiários de coca contra possíveis ataques guerrilheiros. Os paramilitares reunidos da década de 1990 como as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), foram acusados por órgãos de direitos humanos por inúmeros crimes. Na busca por seus inimigos guerrilheiros, estes grupos armados assassinaram centenas de civis/camponeses pobres que não estavam diretamente ligados no conflito.
As tentativas de se estabelecerem a paz e finar o conflito foram fontes de diversas propostas ao longo da década de 1980 e estavam quase que totalmente estagnadas por toda a década de 1990. Entretanto, foi à promessa de diálogos com a guerrilha e a promoção da paz na Colômbia, que elegeu nas eleições de 1998 o candidato Andrés Pastrana. Com um programa de governo que tinha como carro-chefe o fim do conflito e outras diversas ações sociais, como a substituição das culturas de coca por outras lícitas, o governo de Pastrana foi visto por muitos colombianos como um importante passo para o fim dos males que acompanhavam a muitos anos a Colômbia.
Assim que assumiu o poder, Pastrana abre uma mesa de diálogos com a guerrilha e juntamente com seus ministros e alguns agentes internacionais, lançou o chamado ´´Plano Colômbia“. Este plano, que nada mais era que uma série de ações e metas para as negociações, teve em sua elaboração um grande auxilio do governo dos Estados Unidos que via com preocupação o conflito armado colombiano. Além da luta armada, outra preocupação norte-americana era o tráfico, pois a Colômbia era o maior fornecedor da cocaína para os Estados Unidos.
Apresentado, como já dito, como uma alternativa de paz e de substituição das plantações ilegais, o Plano Colômbia alem de ambicioso era de alto custo, visto que o trafico de drogas trazia para a Colômbia lucro exorbitantes, realmente, seria difícil substituí-lo. Assim, todo o custo do Plano foi avaliado em aproximadamente 7,5 bilhões de dólares. O valor seria arrecadado, principalmente, através de empréstimos e privatizações do governo colombiano e ainda, através da ajuda de outros países que assim como os EUA, enxergavam o problema colombiano como um problema mundial.
O presidente Pastrana chegou até mesmo a ceder uma parte do território colombiano a guerrilha, como forma de mostrar sua disposição às negociações, transformando esta área (do tamanho da Suíça) em uma área desmilitarizada, ou seja, um território neutro para as negociações de paz. Mas mesmo com toda a boa intenção do governo em promover a paz, o Plano Colômbia acabou não dando certo sendo ainda alvo de inúmeras criticas no âmbito das Relações Internacionais, principalmente pelos riscos que trouxe aos países vizinhos a Colômbia, que acabaram por se tornar alvo de contingentes guerrilheiros, assim como também de refugiados colombianos.
Estas fugas e ataques se estabeleceram principalmente após os ataques do 11 de setembro. A partir desta data o governo dos EUA passaram a classificar os grupos guerrilheiros e paramilitares da Colômbia, como terroristas, o que mudou completamente suas influencias sobre o conflito.
Com estas mudanças na classificação, o governo dos EUA passaram a pressionar o Estado Colombiano para ações mais energéticas para com os grupos insurgentes. Com ameaças de corte da ajuda financeira norte-americana, coube ao governo colombiano acatar as imposições e mudar totalmente o foco de suas ações. Estas mudanças se deram de duas maneiras: a primeira foi uma maior militarização do conflito, com ataques às guerrilhas e um melhor aparato armamentistico para o Exercito Colombiano. A segunda mudança foi a eliminação das plantações de coca, com o uso de herbicidas, o que acabou por extinguir, alem da coca, outras culturas de subsistência dos pequenos produtores.
Nesse sentido, a Colômbia, por seu histórico de violência, guerrilhas e drogas, acaba por se tornar um problema para a América do Sul e em especial para o Brasil que faz fronteira com este país em uma de região pouco habitada, tornando-se alvo fácil de possíveis incursões guerrilheiras da região amazônia brasileira.

Autor: Carlos Roberto Benjoino da Silva 

FRONTEIRA VUNERÁVEL

A fronteira oeste é uma das mais desprotegidas do Brasil. Estrategicamente localizada, ela é uma delimitadora das zonas platina e amazônica da América do Sul. Se, por um lado, a fronteira sul é a que recebe maior atenção por parte do Estado, contando em diversos pontos com postos de fiscalização de várias agências estatais, como a Receita Federal, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), maior presença do Exército Brasileiro, da Polícia Federal e maior contingente populacional, por outro, a fronteira norte é que possui um sistema de penetração mais poroso mas, ao mesmo tempo, com maior grau de dificuldade de penetração, além de receber também uma atenção mais especial do Estado, com forte presença das Forças Armadas, notadamente o Exército.

No meio dessas duas grandes zonas fica a fronteira do Centro Oeste, notadamente delimitadora dos territórios entre o Brasil, o Paraguai e a Bolívia. Essa zona de fronteira e seus estados limítrofes brasileiros são, também, pontos de trânsito de uma quantidade considerável de ilícitos que seguem em direção à região sudeste para o consumo interno e, daí, também para o tráfico internacional. Isso sem contar com o fato de que esses próprios estados acabam recebendo os influxos de toda essa movimentação.

Essa zona de fronteira merece atenção não só por delimitar territórios com dois Estados nos quais o crime organizado possui fortes vinculações, com são os casos de Paraguai e Bolívia, ambos fornecedores de drogas e armas para a criminalidade brasileira, destacando-se a maconha no caso do Paraguai e a cocaína e pasta base no caso da Bolívia, senão também porque são áreas relativamente desprotegidas e que causam medo e insegurança na população de suas cidades mais próximas e possibilitam, pela existência de uma malha rodoviária que faz a vinculação entre os três países, o escoamento de drogas e armas e outros produtos do crime em sentido de mão dupla.

No geral, o Brasil é um país que apresenta dificuldades naturais para um efetivo controle de suas fronteiras, sobretudo pela sua dimensão continental. Mas não só por isso. Um dos grandes problemas é a persistente falta de coordenação por parte do Estado federal no combate ao crime organizado. Isso se reflete de imediato no caso do controle das suas zonas fronteiriças que, efetivamente, carecem de uma política e de uma estratégia eficiente para impedir ou dificultar a atuação dos criminosos.

Quando analisamos o caso da Bolívia, fica patente que os interesses do Brasil naquele país são múltiplos, sem contar o fator histórico e a enorme fronteira comum entre os dois países. Deve-se levar em consideração a questão da cocaína e derivados, do fluxo migratório de bolivianos para o Brasil, especialmente para São Paulo, onde boa parte deles acaba sendo submetida a uma superexploração em condições desumanas de trabalho e também a questão relativa à segurança nas áreas de fronteira, especialmente na fronteira de Mato Grosso (mas não apenas), área onde há considerável fluxo de ilícitos, geralmente associados a roubos diversos (aviões, automóveis, motocicletas, tratores, caminhões, equipamentos agrícolas e tudo o mais que satisfaça aos vendedores e compradores de cocaína) com ligações com o tráfico internacional de drogas e que acabam explodindo e alimentando a violência urbana das grandes cidades brasileiras.

Autor: Pio Penna Filho